domingo, 29 de junho de 2008

Sobre o ato de minha escrita

Escrever é um verbo, que em si pressupõe uma ação. Nem toda a ação é efetuada com uma intenção, podemos pensar numa situação, como escorregar e se esborrachar no chão. Destas, excluí-se qualquer aspecto activo. Não podemos pensar o ato de escrever como uma ação passiva. Todo ato de escrita tem intenção, exatamente porque a palavra, enquanto expressão de um pensamento, só é passível de se constituir num ato de comunicação a partir de sua articulação com outros símbolos e que seja reconhecido por outros que detêm o conhecimento deste sistema simbólico. A ação da escrita, então, concebido como criação original, e a articulação de símbolos, tem como pressuposto a existência de um receptor desse ato. A ação de escrever é um meio de comunicação em si, mesmo que essa ação não tenha um destinatário específico.
Este blog é exatamente isso. A escrita utilizada como uma necessidade de expor pensamentos, mas sem funcionalidade ou caráter específicos.
O texto desse autor não tem identidade, dada a sua confusão entre múltiplas possibilidades que o mundo lhe dispõe e a sua dificuldade em escolher uma para se aprofundar, e talvez por isso, lhe falte utilidade reflexiva. Este blog nada mais é do que uma necessidade por si só, de existir algo que dê alguma concretude ao seu autor , principalmente em sua relação com o mundo. Destarte, podemos dizer, ou melhor, posso dizer, visto que esse autor de quem falo é o mesmo que está escrevendo (parando por aqui com essa esquizofrenia), não passa de uma tentativa desesperada de construir essa identidade, de intelectual, de escritor, de historiador, de crítico, mas que se frustra no próprio descrédito em que me assumo em relação ao meu texto e as minhas postagens. Paro por aqui, pois estou cansado. Talvez um dia volte a pensar sobre isso.
Beijos ...............................

sábado, 21 de junho de 2008

A VOLTA DE RASPUTIN E DO EXÉRCITO VERMELHO

Aconteceu na Basiléia, Suiça. O dia, 22 de junho de 2008. Um pouco menos de cem anos depois da Revolução, o futebol faz ressurgir, na seleção de uma Rússia não mais imperial, um novo Rasputin, desta vez aliado, e em onze homens de um novo século, faz reencarnar o Exército Vermelho, menos rubro, bem longe do comunismo outrora sonhado, mas com todo o vigor e a energia daqueles soldados. Não mais num campo de batalha, somente um estádio lotado, sem sangue algum derramado, além daquele tirado na leal disputa de jogo. Nesse novo episódio da História, os inimigos são dezenas de milhares em um imenso batalhão laranja, munidos de cores e gritos de apoio à onze homens que, com uma força impressionante, triunfaram em três batalhas sobrenaturais, parecendo invencíveis. Todavia, sucumbiram, ante as tropas incansáveis comandadas por um general que mudou de lado, Gus Riddink, e Arshavin, o mago da bola. Os holandeses devem estar ainda procurando o coelho (e os jogadores russos).

domingo, 15 de junho de 2008

O HOMEM E SEUS OBJETOS

¨Cada objeto, em nós, costuma transformar-se consoante as imagens que evoca e agrupa, por assim dizer, em torno de si. Certamente, de um objeto podemos gostar também em si mesmo, pela diversidade das sensações agradáveis que suscita em nós numa percepção harmoniosa; mas, com bem maior frequência, o prazer que um objeto nos proporciona não se encontra no objeto em si mesmo. A fantasia o embeleza, cingindo-o e quase que iluminando-o de imagens queridas. E, à nossa percepção, ele não mais se apresenta tal como é, mas como que animado pelas imagens que suscitaem nós ou que os nossos hábitos lhe associam. No objeto, em suma, amamos o que nele pomos de nós mesmos, o acordo, a harmonia que estabelecemos entre ele e nós, a alma que ele adquire somente para nós e que é constituída das nossas lembranças.¨ (Pirandello, O Falecido Mattia Pascal. São Paulo, Abril Cultural, 1978. p.128)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A AUTO-INVENÇÃO DE UM HOMEM

¨Essa corrida fantástica, essa corrida no encalço de uma vida não realmente vivida, mas colhida paulatinamente nos outros e nos vários lugares e adotada e sentida como se fosse minha, proporcionou-me uma alegria estranha e nova, não destituída de certa tristeza, nos primeiros tempos de minha existência errante. Fiz dela uma verdadeira ocupação. Eu vivia não somente no presente, mas, ainda, para o meu passado, isto é, para os anos que Adriano Meis não vivera. Nada ou muito pouco conservei daquilo que, antes, tinha imaginado. Nada se inventa, sem dúvida, que não possua uma raiz qualquer, mais ou menos profunda, na realidade; também as coisas mais estranhas podem ser verdadeiras e, aliás, nenhuma imaginação chega a conceber certas loucuras, certas aventuras inverossímeis, que se desencadeiam e rebentam desde o seio tumultuoso da vida; ainda assim, como e quanto a realidade viva e palpitante se revela diferente das invenções que dela podemos tirar! De quantas coisas substanciais, extremamente miúdas, inimagináveis, necessitam nossas invenções, para voltarem a ser aquela mesma realidade de onde foram tiradas, de quantos fios tornem a prendê-las na complicadíssima urdidura da vida, fios que nós mesmos cortamos para fazer com que elas se tornassem coisa independente!

Ora, o que era eu, senão um homem inventado? Uma invenção ambulante, que queria e, de resto, devia forçosamente viver para si, embora mergulhada na realidade.

Assistindo à vida dos outros e observando-a minuciosamente,via-lhe os infinitos liames e, ao mesmo tempo, via os meus muitos fios partidos. Podia eu, agora, atar de novo esses fios à realidade? Sabe-se lá para onde me arrastariam; talvez se tornassem logo rédeas de cavalos com o freio nos dentes que levariam para o precipício a pobre biga da minha necessária invenção. Não. Eu devia atar de novo esses fios somente à fantasia.

E seguia, nas ruas e nos jardins, os garotos de cinco a dez anos, estudando seus movimentos, seus jogos, e recolhendo suas expressões, para compor aos poucos, com tudo isso, a infância de Adriano Meis. Consegui-o tão bem, que ela, por fim, tomou, na minha mente, consistência quase real.

Não quis imaginar, para mim, uma nova mãe. Teria a impressão de profanar a memória, viva e dolorosa, de minha mãe verdadeira. Mas um avô, sim, o avô da minha fantasia inicial, esse eu quis criar. ¨

(Pirandello. O Falecido Mattia Pascal. São Paulo, Abril Cultural, 1978. p.119-120)

sábado, 7 de junho de 2008

Guernica em 3D

Qualquer palavra a mais pode estragar. É só assistir.


http://www.lena-gieseke.com/guernica/movie.html

A 3D Exploration of Picasso's Guernica

The idea of creating a 3D version of an influential artwork came out of doing jigsaw puzzles of famous paintings. When you assemble a jigsaw, you study a painting in great detail and you become aware of the very lines, shapes and colors that the painting is composed of and how these elements merge to create a unified expression. Through the puzzle, you explore the artwork, examining details your eye might not have caught otherwise. Your experience of the painting is intense, aroused by the action of puzzling, but expanded and strengthened by your own fantasy.

This 3D rendering of Picasso's Guernica offers a similar experience. The actual spatial immersion into a painting is a powerful way to prompt contemplation of its many facets. My project is not only a creative piece of work on its own; it stands in a larger context. It provides the unusual opportunity to view the painting from a unique perspective, revealing aspects that would normally stay hidden from the casual viewer. When we discern the original painting in this three-dimensional reproduction, we recognize which features most significantly constitute the painting. Consequently this three-dimensional exploration of Picasso's Guernica is an innovative technique for comprehending and appreciating the original masterpiece.

My primary intention for the project was to create a provoking and deep contemplation of Pablo Picasso’s Guernica. Is my model a true reconstruction of the Picasso’s painting, or is it merely a rough re-visualization? Is it still Picasso’s art or has it, through my addition of third dimension, become something completely different? It is not my place to answer those questions nor to determine the relationship between my three-dimensional reproduction and the original painting. Perhaps this is a question best left in the hands of critics.