segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Diálogo descontextualizado

-Você poderia achar que eu sou um psicopata.

-Eu não pensei nisso.

-Mas poderia. Existe um precedente.

-É verdade.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Coragem

Não sei bem o jeito como as coisas funcionam, mas elas funcionam. Não há caminho de volta, e arrependimento é uma palavra que não vale muito. O que sei é que temos que fazer o que tem que ser feito. Depois, podemos chorar , arrancar os cabelos, ficar desesperados. Tudo vale, menos a anestesia da inércia, o alívio parasita do comodismo. Pois o ¨não fazer¨ é exatamente isso, um parasita que destrói a nossa vontade de viver. O pior arrependimento é o de não se viver.
E aos que dizem que a paciência é a senhora das virtudes, complemento: somente aos que tem coragem de viver.
Onde há desejo, há uma vontade a espera de ser encontrada.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Até hoje

Lembro...

O meu primeiro gozo

tua boca a provar o gosto
do meu desejo pelo seu corpo
Aspirando suspiros
Devorando gemidos

O relevo suave dos seus pêlos
acariciando o meu rosto

Na trilha de beijos pelo seu corpo
Onde deixei meu desejo
E gozei de arrepios.

sábado, 29 de novembro de 2008

Foto

A janela aberta entrega que era noite. Sobre uma cadeira, um menino de olhos de doido, bochechas de veludo e cabelo sarará, mantido em pé pelas mãos da mãe preta, que brincava de marionete. Do lado, uma menina - mais pra garota do que pra menina - que tinha as pernas bem grandes e já sabia sentar. Com os cabelos sobre a testa e um sorriso tímido, chamava-se Nina, e hoje tem nome adulto.

Em frente, uma mesa de flores azuis, com um prato e meio e uma faca. O bolo, preto de chocolate, enfeitado com bonecos de pele azul e caras fofinhas. Nesse dia Papai Noel apareceu, mas todo mundo disse que era disco voador. O Jairzinho não veio. Ele nunca vem...

Acho que era a minha festa de um ano.

sábado, 15 de novembro de 2008

Ansiedade (II)

É como se o tempo estivesse prestes a se esgotar. Porém, os segundos e minutos passam com a velocidade das horas. Eu preciso, necessito. Parece a última oportunidade, o instante final da chance de sentir aquele prazer.

O pensamento não consegue desviar-se, fixa-se num ponto e oprime o corpo. A razão cede aos argumentos incontestáveis do desejo. A impossibilidade surge como uma sentença de morte. ¨-Só mais uma, dê a si um último momento de fraqueza. Mais esse, vai... Relaxe, não se puna tanto.¨

O ar torna-se rarefeito. Não é possível ficar parado, nem respirar fundo. A tensão penetra nos músculos, injeta adrenalina nas veias. O coração acelera quando tento resistir. É necessário consumir. Inquieto, procuro algo para pegar, suportar o peso. Os sentidos, com fome, agem como um verme parasita que absorve qualquer forma de reflexão. A coordenação motora submete-se às ordens dessa vontade incontrolável.

Agarro os cabelos com força, fecho os olhos, tento negar. Não há alternativa. Fato consumado vorazmente, o alívio.. Imerso na culpa, faço um juramento silencioso, de que resistirei, de que acharei uma cura para essa doença.

Momento de Lucidez: Por quê não, sentir plenamente a frustração, a ansiedade? Não buscar curá-las, como uma doença, mas tentar compreender os seus efeitos, vivenciando-os plenamente?

sábado, 8 de novembro de 2008

Fragmentos

As pessoas precisam deixar de ser (ou de tentar ser) tolerantes. A tolerância é um sentimento, ou uma prática, que aparenta uma coerção à convivência. O ideal seria as pessoas exercitarem mais a compreensão, pois este é o meio mais construtivo de se tecer relações humanas, visto que, no esforço de compreender-se o outro, nós mesmos ficamos mais compreensíveis.
Naquela rua imunda, que mais parecia a ante-sala do inferno, os seres mais bizarros já vistos jogavam-se uns contra os outros. Tudo o que fazia sentido deixava de ter, nada explicava o poder daquele som dilacerante sobre aquelas almas também sem sentido.
A partir daquele momento, toda a razão a que dava valor abandonei no vômito forçado de vinho. Se a liberdade existe, creio que o que vivi naquela noite é, foi e será (mas do futuro quem sabe...) o mais próximo que chegarei dela.
Uma pessoa que não sabe o que quer da vida, nem do que esperar dela. Sem identidade e sem lugar no mundo. Talvez seja o medo e a limitação que esse lugar daria, talvez o medo da responsabilidade com esse lugar. ¨De antemão, lhe digo: - serei irresponsável.¨ Existem certas coisas que não precisam ser explicadas, e sim vividas. A razão tem seus limites e sua alteridade. Nenhuma razão é igual. A minha, a sua, a dessa pessoa de quem se fala, anônima para o mundo, mas que em sua existência, é o centro de todo o resto. O olhar que percebe, a perspectiva de onde se interpreta. Um amálgama de experiências que cala fundo nessa pessoa que cada um acha que conhece um pouco, mas que nninguém quer perder o tempo em compreender.
E nesse fluxo de palavras, encontra-se um certo alguém, que aqui não se encerra, mas que no momento, é o máximo possível de se dizer.
Não sei o que esperar da vida. Também acho cansativo viver. Mas de que vale reclamar, se ninguém ouve. E de que vale desistir, se vão continuar não me ouvindo. Persistir, ir levando do jeito que dá, é a única saída, torcendo para as coisas um dia adquirirem sentido. Tentar encontrar outras pessoas, daquelas que acham que vale a pena ouvir, que gostam de compreender o que se passa com o próximo. É o que desejo, mas não me vejo como uma pessoa assim. Talvez esteja mau cercado de amigos, talvez seja exigente demais....Sinceramente, não sei. Procuro a versão mais adequada de acordo com o momento, mesmo sabendo que o seguinte não será o mesmo. Não. Não faço isso conscientemente. Tenho consciência de que faço, mas é institivo, instantâneo, incontrolável.
Por isso às vezes, por alguns momentos, desejo a morte. Mas sempre passa, quando, mesmo que por um breve instante, um carinho, um pouco de atenção, uma cena de amor, ou um sorriso fugaz me faz reconhecer que viver não deve ser tão ruim.

domingo, 29 de junho de 2008

Sobre o ato de minha escrita

Escrever é um verbo, que em si pressupõe uma ação. Nem toda a ação é efetuada com uma intenção, podemos pensar numa situação, como escorregar e se esborrachar no chão. Destas, excluí-se qualquer aspecto activo. Não podemos pensar o ato de escrever como uma ação passiva. Todo ato de escrita tem intenção, exatamente porque a palavra, enquanto expressão de um pensamento, só é passível de se constituir num ato de comunicação a partir de sua articulação com outros símbolos e que seja reconhecido por outros que detêm o conhecimento deste sistema simbólico. A ação da escrita, então, concebido como criação original, e a articulação de símbolos, tem como pressuposto a existência de um receptor desse ato. A ação de escrever é um meio de comunicação em si, mesmo que essa ação não tenha um destinatário específico.
Este blog é exatamente isso. A escrita utilizada como uma necessidade de expor pensamentos, mas sem funcionalidade ou caráter específicos.
O texto desse autor não tem identidade, dada a sua confusão entre múltiplas possibilidades que o mundo lhe dispõe e a sua dificuldade em escolher uma para se aprofundar, e talvez por isso, lhe falte utilidade reflexiva. Este blog nada mais é do que uma necessidade por si só, de existir algo que dê alguma concretude ao seu autor , principalmente em sua relação com o mundo. Destarte, podemos dizer, ou melhor, posso dizer, visto que esse autor de quem falo é o mesmo que está escrevendo (parando por aqui com essa esquizofrenia), não passa de uma tentativa desesperada de construir essa identidade, de intelectual, de escritor, de historiador, de crítico, mas que se frustra no próprio descrédito em que me assumo em relação ao meu texto e as minhas postagens. Paro por aqui, pois estou cansado. Talvez um dia volte a pensar sobre isso.
Beijos ...............................

sábado, 21 de junho de 2008

A VOLTA DE RASPUTIN E DO EXÉRCITO VERMELHO

Aconteceu na Basiléia, Suiça. O dia, 22 de junho de 2008. Um pouco menos de cem anos depois da Revolução, o futebol faz ressurgir, na seleção de uma Rússia não mais imperial, um novo Rasputin, desta vez aliado, e em onze homens de um novo século, faz reencarnar o Exército Vermelho, menos rubro, bem longe do comunismo outrora sonhado, mas com todo o vigor e a energia daqueles soldados. Não mais num campo de batalha, somente um estádio lotado, sem sangue algum derramado, além daquele tirado na leal disputa de jogo. Nesse novo episódio da História, os inimigos são dezenas de milhares em um imenso batalhão laranja, munidos de cores e gritos de apoio à onze homens que, com uma força impressionante, triunfaram em três batalhas sobrenaturais, parecendo invencíveis. Todavia, sucumbiram, ante as tropas incansáveis comandadas por um general que mudou de lado, Gus Riddink, e Arshavin, o mago da bola. Os holandeses devem estar ainda procurando o coelho (e os jogadores russos).

domingo, 15 de junho de 2008

O HOMEM E SEUS OBJETOS

¨Cada objeto, em nós, costuma transformar-se consoante as imagens que evoca e agrupa, por assim dizer, em torno de si. Certamente, de um objeto podemos gostar também em si mesmo, pela diversidade das sensações agradáveis que suscita em nós numa percepção harmoniosa; mas, com bem maior frequência, o prazer que um objeto nos proporciona não se encontra no objeto em si mesmo. A fantasia o embeleza, cingindo-o e quase que iluminando-o de imagens queridas. E, à nossa percepção, ele não mais se apresenta tal como é, mas como que animado pelas imagens que suscitaem nós ou que os nossos hábitos lhe associam. No objeto, em suma, amamos o que nele pomos de nós mesmos, o acordo, a harmonia que estabelecemos entre ele e nós, a alma que ele adquire somente para nós e que é constituída das nossas lembranças.¨ (Pirandello, O Falecido Mattia Pascal. São Paulo, Abril Cultural, 1978. p.128)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A AUTO-INVENÇÃO DE UM HOMEM

¨Essa corrida fantástica, essa corrida no encalço de uma vida não realmente vivida, mas colhida paulatinamente nos outros e nos vários lugares e adotada e sentida como se fosse minha, proporcionou-me uma alegria estranha e nova, não destituída de certa tristeza, nos primeiros tempos de minha existência errante. Fiz dela uma verdadeira ocupação. Eu vivia não somente no presente, mas, ainda, para o meu passado, isto é, para os anos que Adriano Meis não vivera. Nada ou muito pouco conservei daquilo que, antes, tinha imaginado. Nada se inventa, sem dúvida, que não possua uma raiz qualquer, mais ou menos profunda, na realidade; também as coisas mais estranhas podem ser verdadeiras e, aliás, nenhuma imaginação chega a conceber certas loucuras, certas aventuras inverossímeis, que se desencadeiam e rebentam desde o seio tumultuoso da vida; ainda assim, como e quanto a realidade viva e palpitante se revela diferente das invenções que dela podemos tirar! De quantas coisas substanciais, extremamente miúdas, inimagináveis, necessitam nossas invenções, para voltarem a ser aquela mesma realidade de onde foram tiradas, de quantos fios tornem a prendê-las na complicadíssima urdidura da vida, fios que nós mesmos cortamos para fazer com que elas se tornassem coisa independente!

Ora, o que era eu, senão um homem inventado? Uma invenção ambulante, que queria e, de resto, devia forçosamente viver para si, embora mergulhada na realidade.

Assistindo à vida dos outros e observando-a minuciosamente,via-lhe os infinitos liames e, ao mesmo tempo, via os meus muitos fios partidos. Podia eu, agora, atar de novo esses fios à realidade? Sabe-se lá para onde me arrastariam; talvez se tornassem logo rédeas de cavalos com o freio nos dentes que levariam para o precipício a pobre biga da minha necessária invenção. Não. Eu devia atar de novo esses fios somente à fantasia.

E seguia, nas ruas e nos jardins, os garotos de cinco a dez anos, estudando seus movimentos, seus jogos, e recolhendo suas expressões, para compor aos poucos, com tudo isso, a infância de Adriano Meis. Consegui-o tão bem, que ela, por fim, tomou, na minha mente, consistência quase real.

Não quis imaginar, para mim, uma nova mãe. Teria a impressão de profanar a memória, viva e dolorosa, de minha mãe verdadeira. Mas um avô, sim, o avô da minha fantasia inicial, esse eu quis criar. ¨

(Pirandello. O Falecido Mattia Pascal. São Paulo, Abril Cultural, 1978. p.119-120)

sábado, 7 de junho de 2008

Guernica em 3D

Qualquer palavra a mais pode estragar. É só assistir.


http://www.lena-gieseke.com/guernica/movie.html

A 3D Exploration of Picasso's Guernica

The idea of creating a 3D version of an influential artwork came out of doing jigsaw puzzles of famous paintings. When you assemble a jigsaw, you study a painting in great detail and you become aware of the very lines, shapes and colors that the painting is composed of and how these elements merge to create a unified expression. Through the puzzle, you explore the artwork, examining details your eye might not have caught otherwise. Your experience of the painting is intense, aroused by the action of puzzling, but expanded and strengthened by your own fantasy.

This 3D rendering of Picasso's Guernica offers a similar experience. The actual spatial immersion into a painting is a powerful way to prompt contemplation of its many facets. My project is not only a creative piece of work on its own; it stands in a larger context. It provides the unusual opportunity to view the painting from a unique perspective, revealing aspects that would normally stay hidden from the casual viewer. When we discern the original painting in this three-dimensional reproduction, we recognize which features most significantly constitute the painting. Consequently this three-dimensional exploration of Picasso's Guernica is an innovative technique for comprehending and appreciating the original masterpiece.

My primary intention for the project was to create a provoking and deep contemplation of Pablo Picasso’s Guernica. Is my model a true reconstruction of the Picasso’s painting, or is it merely a rough re-visualization? Is it still Picasso’s art or has it, through my addition of third dimension, become something completely different? It is not my place to answer those questions nor to determine the relationship between my three-dimensional reproduction and the original painting. Perhaps this is a question best left in the hands of critics.

sábado, 31 de maio de 2008

Alimento para o espírito

¨nutro-me do alimento que é verdadeiramente o meu e para o qual nasci. E durante quatro longas horas, não sinto mais o tédio, esqueço minha miséria, já não temo a pobreza nem me deixo intimidar pela morte.¨ (Nicolau Maquiavel, durante sua longa estadia em San Casciano, afastado da atividade política pelo fim do período republicano em Florença, dedicando-se assim ao ostracismo reflexivo, relendo Dante, Políbio e Petrarca e escrevendo as obras que guardaram o seu nome no panteão dos grandes pensadores da História de nossa Civilização.)

Indicação de livro: Mello, Evaldo Cabral de., Um imenso Portugal - história e historiografia. São Paulo, Ed. 34, 2002.

sábado, 24 de maio de 2008

E quem se importa com a crítica.....

Imagino, para um diretor de cinema que tem por objetivo adaptar uma obra literária , qual seria o maior reconhecimento. Vejam o vídeo abaixo. Creio que seja esse.

http://br.youtube.com/watch?v=Y1hzDzAvJOY

quinta-feira, 15 de maio de 2008

¨Em um grão, vêm cem colheitas
Em um coração, um mundo inteiro está contido¨

(Geraldine Brooks. Memórias do Livro - Romance sobre o manuscrito de Sarajevo. 2008, Ediouro, p. 289.)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Poucas palavras

Penso, logo....
Não sei o que pensar
Essa existência é muito confusa
Então desisto.


Essas palavras não dizem nada do que sinto
Nem se articulam da forma como penso
Por isso, (temo) tenho medo, de(por)falar, de (por) escrever
Até pra chorar me sinto oprimido
Pois não sei explicar (e teria) os porquês
Das lágrimas.

(querendo ir para um lugar bem longe, poderia até dizer, sumir!!!!)


domingo, 4 de maio de 2008

uma música para refletir o mundo em que (e que) vivemos

Capitão de Indústria (Paralamas do Sucesso - Cd 9 Luas - 1996)

Eu às vezes fico a pensar
Em outra vida ou lugar
Estou cansado demais
Eu não tenho tempo de ter

O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
É quando eu me encontro perdido
Nas coisas que eu criei
E eu não sei
Eu não vejo além da fumaça
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas
AhEu acordo prá trabalhar

Eu durmo prá trabalhar
Eu corro prá trabalhar
Eu não tenho tempo de ter

O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
Eu às vezes fico a pensar
Em outra vida ou lugar
Estou cansado demais
Eu não tenho tempo de ter

O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
É quando eu me encontro perdido
Nas coisas que eu criei
E eu não sei
Eu não vejo além da fumaça
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas
Eu acordo p'rá trabalhar

Eu durmo p'rá trabalhar
Eu corro p'rá trabalhar
Eu não tenho tempo de ter

O tempo livre de ser
De nada ter que fazer
Eu não vejo além da fumaça que
Passa
E polui o ar
Eu nada sei
Eu não vejo além disso tudo
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas
O amor e as coisas livres, coloridas
Nada poluídas

sábado, 3 de maio de 2008

Pensamentos de Outono



O céu está nublado
Um vento frio entra pela janela
O quarto está escuro
Não tem mais ninguém aqui dentro
Só existem pensamentos
Sobre o nada, sobre a solidão
Sobre como é ruim não ter ninguém nesta cama
Debaixo deste edredon
Os olhos doem
e a vontade de qualquer coisa inexiste
A respiração está pesada
Não se tem para onde ir
Amanhã é domingo
Amanhã é dia santo
Mesmo que não importe
Não haverá nada pra fazer
Letras e palavras não traduzem sentimentos
Pelo menos é o que penso neste exato momento
Quero ir para algum lugar
Descobrir algo novo do mundo, da vida, de mim
Quero um beijo neste instante
E um abraço bem apertado
Alguém que apenas diga
¨Eu te amo não importa o que diga ou que faça¨
Quero saber esta verdade
Haja o que houver
Saber que viver é bom
E ter um pouco de tranquilidade
Desejo mais leveza
ter menos necessidades e importâncias
Não precisar tanto das pessoas
Me bastar e ser feliz.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

ANSIEDADE

É um novo dia que se apresenta,
Novas horas que, velozes ou lentas, passarão.
Não, elas não podem ser um estorvo.
Tentarei, ardentemente,
não esperar pelo tempo que não chegou,
e aproveitar ao máximo
este que aí está.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Hoje não sei o que fazer
Nada importa
que bom que existe o amanhã
Talvez arranje algo.....

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Para não dizerem que não falei de flores.....


Título Original: Lucía y el Sexo
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 128 minutos
Ano de Lançamento (Espanha): 2001
Direção: Julio Medem
Roteiro: Julio Medem
Sinopse: Após o sumiço de seu noivo, o escritor Lorenzo (Tristán Ulloa), a bela e independente Lúcia (Paz Vega) decide ir até uma ilha do Mediterrâneo onde seu namorado nunca a quis levar, apesar de seus insistentes pedidos. Lá ela encontra detalhes sobre antigos relacionamentos dele, como se fossem passagens ocultas de seu passado que o autor, com sua ausência, agora a permitisse ler.
Jorge Luis Borges, Gabriel Garcia Marquez, Pedro Almodovar, Guilhermo del Toro..... o realismo fantástico tem raízes hispânicas, e este filme é mais um grande exemplo. Não sei se são somente as minhas referências, mas enfim...
Nada mais a comentar, afinal não sou crítico de cinema......
Bom filme!!!!!

domingo, 20 de abril de 2008

Dedicatória

¨Para ser grande: sê inteiro
Nada teu exagera ou exclui,
Sê todo em cada coisa,
Põe quanto és no mínimo
que fazes.¨

(Fernando Pessoa)

sábado, 19 de abril de 2008

There are more things

¨Para ver uma coisa é preciso compreendê-la. A poltrona pressupõe o corpo humano, suas articulações e partes, as tesouras, o ato de cortar. Que dizer de uma lâmpada ou de um veículo? O selvagem não pode perceber a bíblia do missionário; o passageiro não vê o mesmo cordame que os homens de bordo. Se víssemos realmente o universo, talvez o entendêssemos.¨

(Jorge Luis Borges., O livro de areia, Ed. Globo, 1984, p.46.)

domingo, 6 de abril de 2008

Poesia da uma noite

REDENÇÃO

As luzes estão apagadas
Nada de ti espero,
Além desta ilusão de quando estou no quarto,
deste abraço das suas pernas,
do seu corpo entre meus braços

Tua vida é um mistério,
que me consome enquanto te consumo
Teu nome não sei, muito menos o que me contastes.
Mas este é o único lugar onde nada pode importar.

Amanhã não te verei,
Sei que não me ligarás
Não pedirás a minha atenção,
muito menos me levará a loucura.

Seguirei nesta segura solidão,
e você nas incertas companhias,
até que um dia voltemos a nos encontrar,
quando eu bem quiser e precisar.
Lá estará. Em qualquer nome e corpo.
A minha redenção.

domingo, 13 de janeiro de 2008

MORTE E VIDA SEVERINA

(A RESPOSTA DE JOSÉ, O MESTRE CARPINA A SEVERINO, O RETIRANTE, APÓS A NOTÍCIA DO NASCIMENTO DE SEU FILHO)

—— Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.

E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida
como a de há pouco, franzina
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

sábado, 12 de janeiro de 2008

MORTE E VIDA SEVERINA

— Seu José, mestre carpina,
que lhe pergunte permita:
há muito no lamaçal
apodrece a sua vida?
e a vida que tem vivido
foi sempre comprada à vista?

— Severino, retirante,
sou de Nazaré da Mata,
mas tanto lá como aqui
jamais me fiaram nada:
a vida de cada dia
cada dia hei de comprá-la.

— Seu José, mestre carpina,
e que interesse, me diga,
há nessa vida a retalho
que é cada dia adquirida?
espera poder um dia
comprá-la em grandes partidas?

— Severino, retirante,
não sei bem o que lhe diga:
não é que espere comprar
em grosso tais partidas,
mas o que compro a retalho
é, de qualquer forma, vida.

— Seu José, mestre carpina,
que diferença faria
se em vez de continuar
tomasse a melhor saída:
a de saltar, numa noite,
fora da ponte e da vida?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

TÉDIO

Como se faz o tempo passar?
Faltam sete minutos
O que se faz para o tempo passar?
Escreve-se sobre o tédio de esperar o tempo passar
E enquanto aqui escrevo, o tempo passa,
Mas num vagar que,
Se parar de escrever e perguntar as horas,
Possivelmente descobrirei, desoladamente,
Que elas não passaram tanto quanto gostaria
E me perguntarei se não poderia ter deixado a minha curiosidade quieta,
e o tempo passar em paz....

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

A HISTÓRIA DE DOMINGOS (PARTE IV)

Era feriado de sete de setembro, e decidiram viajar para Friburgo com a família de Maria. Seria um feriado juntos num lugar diferente, algo que nunca tinham vivenciado, seria bom para o relacionamento. Além disso, Domingos conheceria mais proximamente os pais dela, e não raro, um relacionamento infelizmente estende-se as famílias dos enamorados. E lá foram, partindo pela manhã. Apesar da expectativa boa, a viagem foi penosa para ele. Sabia que os pais da namorada tinham uma péssima impressão sua, e dividir o carro com pessoas que desconfiavam de sua índole era a pior experiência do mundo. Tentou estabelecer um papo amistoso, embora superficial, mas pareciam primitivos, não tinham muito o que conversar, deixando-o bem constrangido. Mas enfim chegaram. Era o meio da tarde, e entre arrumar as coisas, mostrar a casa, comprar suprimentos no armazém próximo, acabou-se o dia. O chalé ficava num bairro alto de Nova Friburgo, dentro de um condominio elevado, deveras chique. Porém, a casinha, comparado às vizinhas, era simples, mal preservada por fora, mas simpática em sua modéstia. No jardim da casa, muitas flores, de diversas cores. Deu tempo para namorarem um pouco, estavam se entendendo bem até aquele momento. Comeram uma pizza naquela noite, assistiram um pouco de TV, e foram dormir. Fazia muito frio. Domingos nunca sentiu tanto frio em sua vida. Colocou um monte de casacos. Maria igualmente. A família da moça era liberal em questões sexuais, não sendo problema o fato de dormirem na mesma cama. Se cobriram com um edredon desconfortável. Domingos odiava dormir com tanta roupa, apesar da necessidade ali pedida. Brigou muito consigo mesmo para cair no sono.

No meio da noite, um pesadelo. Domingos acorda gritando, um grito agônico, quase gutural. Abre os olhos e vê Maria cair da cama. Desperta assustado. Maria se levanta rapidamente do chão e corre para o canto do quarto. Dona Laura, mãe de Maria, entra na quarto, provavelmente assustada com os gritos naquela altura da madrugada. É tranquilizada pela filha e volta para o seu quarto. O coração do rapaz está acelerado. Tudo parece embaçado, confuso, não entende o que se passa. Maria continua distante dele. Domingos conta que teve um pesadelo, diz que não se lembra dele. Eles sobem as escadas e vão para a cozinha, onde o jovem toma um copo de achocolatado quente. Nesse instante, a revelação surpreendente: ¨Domingos, acordei com você tentando me sufocar ¨. O rapaz fica assustado. Diz que aquilo não era verdade, que se lembra somente de ter acordado com ela caindo da cama, provavelmente empurrada por ele. Ela insiste na estória, dizendo que não está louca. Domingos se defende, dizendo que estava dormindo. Ela desiste da discussão, mas não consente em voltar a dormir com o namorado no quarto. Dormem no sofá da sala, com o constrangimento do pai dormindo no chão do recinto.

Acordam na manhã seguinte. Parece que está tudo bem. Maria desce. Meio relutante e após algum tempo, Domingos vai atrás. Conversam um pouco. Ela começa a trocar de roupa. Tira a calça de moleton que vestia. Por baixo, está uma justa roupa de lã, apropriada para o frio que estava fazendo. A calça, entrançada, deixando transparecer entre os fios as pernas e o traseiro desnudo de Maria, excitam Domingos. Ele a agarra por trás, esfregando o seu sexo rijo nela. Beija o seu pescoço, sussurra em seus ouvidos o quanto ficou excitado. Maria também se excita. Vão para a cama e trepam, porém a trepada é muito ruim, como foi a maioria da vida sexual dos dois. Ele goza rápido e Maria o obriga a chupá-la contra a vontade. Percebendo o constrangimento do namorado, ela pede para parar. Maria vai para o banho. Domingos a espera, pensando no que aconteceu. Ela sai do banho diferente, mais fria em relação ao rapaz. Ele percebe e, nervoso, cobra satisfações. Maria explica que teme por sua vida, que na noite anterior, havia sido vítima de um atentado, que Domingos tentara estrangulá-la. Domingos fica possesso e tenta explicar a implausibilidade daquilo que estava ouvindo. Ela permanece inflexível, e ainda diz que o namorado utilizara de sua suposta fragilidade emocional para manipulá-la, não só naquele feriado, mas durante toda a relação. O cara fica muito puto e diz: ¨é assim, então vou embora¨. Maria não acredita e joga em sua cara que aquilo era mais um joguinho de manipulação do astuto. ¨Ah é! Veremos se é um jogo¨. Domingos junta sua roupa e realmente vai embora. Maria tenta dissuadí-lo, sem abrir mão da sua explicação em relação à noite anterior. O rapaz se despede educadamente dos pais e da avó da moça e pega ladeira abaixo, rumo a saída do condomínio e da vida da desgraçada. Maria vai atrás disposta a tentar convencê-lo a voltar, mas não consegue. Domingos titubeia, mas acaba continuando o seu caminho. Segue para o ponto de ônibus e a menina volta para casa. Parece tudo terminado.

Passados quinze minutos, Domingos esperando o ônibus para o centro de Friburgo. Fuma um cigarro, triste e apreensivo com o que se passara. No momento seguinte, aparece Maria de carro com os pais. Ele a manda voltar, mas a menina parece disposta a convencê-lo pela volta. Pega o ônibus com o rapaz. Durante o trajeto, conversam e discutem sobre a validade do relacionamento. Domingos se recusa a perdê-la, fala coisas sem sentido, insiste na imagem angustiante de nunca mais voltar a vê-la, na explicação de que não tentaram o suficiente, no absurdo daquele temor, da estória da noite anterior, daquele fim de namoro. Como forma de aplacar o descontrole do menino (sim, ele era um menino, e possivelmente continua a sê-lo) ela aceita voltar. Passeiam pelo centro de Friburgo, andam de teleférico. Faz frio lá em cima, e a altura atingida pelo transporte causa vertigem ao rapaz, que forçosamente mantém-se no aparente equilíbrio. O medo, aliado ao nervosismo de toda a situação anterior, o faz ter desejos estranhos, os quais o próprio teme. Ele a ama, mas naquele momento quer machucá-la. Tenta se controlar, mas nunca se sentiu tão próximo do descontrole. No caminho de volta para o chalé, a garota pede que o namorado converse com o pai dela. Ele concorda. Ao chegar ao chalé, chama seu Bráulio para o quarto, fala de suas intenções com a filha dele, esclarece o que aconteceu na noite anterior, pede desculpas pelos inconvenientes. Seu Bráulio, covardemente, diz a ele que acredita em sua boa índole e que confia no seu bem-querer por Maria. Todavia, seu Bráulio sempre envenenou aquele relacionamento. Naquele instante, no quarto, o homem também estava com medo do rapaz. Todos estavam. Maria continua evitando a proximidade. Perturbado, Domingo fala coisas sem sentido, parece uma criança desprotegida. Sente que será abandonado. Vão dormir separados. Domingos acorda no sábado sabendo que vão embora naquela manhã, fica contrariado, mas tenta manter a calma. Vai para trás da casa, acende um cigarro. Pensando naquela avalanche de acontecimentos, se derrama em prantos, como a muito não fazia. Está aturdido, desenganado quanto ao seu futuro. Naquele momento, volta a ter cinco anos de idade. Voltam perto do almoço. O retorno é extremamente traumático para o pobre Domingos. Ele sabe que o fim daquela viagem culminará numa rejeição a ele. Muitas coisas vem a sua cabeça, começa a sentir um misto de raiva e vontade de consertar tudo. Naquela pequena viagem, briga e afaga Maria inúmeras vezes. Ele aparenta loucura. No fundo, está confuso, e teme pelo vazio que ela deixará. Mas acaba por complicar tudo naquelas duas horas atordoantes da tarde de sábado, entre a serra e o mar. Ao chegarem, soltam na praça próxima a sua casa, antes de chegarem ao prédio de Maria. Naquela praça onde corre todo o dia, onde namoraram tanto. Conversam e decidem pelo fim daquilo. Mas ele parece inconformado. Chora, chora muito, e sente vontade de voltar atrás. Intermitentes, a declaração de amor e o xingamento, símbolo maior de sua confusão, de sua dependência, de amar o que odeia, de gozar naquilo que lhe causa dor. Na despedida, ambos choram. Mas ali está terminado.

No mesmo dia, Domingos telefonou inúmeras vezes para ela , da casa de um amigo. Foi em vão, ninguém atendia. Voltou no domingo pela manhã para casa, mas antes de chegar, ainda passou pela porta do prédio dela, onde tocou desesperadamente em seu apartamento. Ninguém atendeu. Tentou mandar um e-mail, explicando tudo, mas a mensagem voltou. Revoltado, como se tudo o que viveram, tão importante para ele, tivesse sido esquecido, escreveu uma carta desesperada, foi novamente a porta de seu prédio, e lá deixou. Ele queria não só tentar convencê-la a voltar, mas também de sua sanidade. Domingos duvidava dela, começava a achar-se perigoso, só deixaria essa angústia quando ela acreditasse em sua saúde mental. A opinião das pessoas conformava a sua própria sobre si. Na manhã da terça-feira, ela respondeu a carta num e-mail, pedindo para não mais ser procurada. Maria estava com medo. Para alguém que tinha ânsia por amor, de ser amado, nada podia ser pior do que ser temido, ainda mais por alguém que amou tanto.

O tempo passou, a primeira semana foi dolorosa. Mas depois, tudo voltou ao normal. O vício havia escolhido se afastar do viciado. Foi o que Domingos percebeu posteriormente. Algumas semanas foram o suficiente para ele se dar conta da positividade daquele afastamento. Pouco tempo depois do dia fatídico, Domingos ainda ligou para Maria, sabendo por um amigo que conhecia uma conhecida dela que a menina sofria por ele. Ela atendeu, mas não quis conversar. Havia indiferença na voz. Domingos ficou mexido, mas digeriu bem.

Aquele relacionamento turbulento mexeu profundamente com o jeito de ser de Domingos. Nunca mais relacionou-se com mulher alguma, e agora passou a temer por isso. Embrenhou-se na crença de seus ideais, e passou a ser mais introspectivo, a ter uma opinião ainda mais pessimista sobre as relações humanas. Agora só poderia se relacionar sadiamente quando chegasse a ser aquilo que desejava, aos seus ideais, mas nunca conseguiu. Ainda tenta, mas sabe o tamanho de sua luta. Afinal, seu maior adversário é ele próprio, no afã de deixar na posição de objeto para sujeito de sua própria vida.
(TALVEZ CONTINUE, TALVEZ FIQUE MAL RESOLVIDO, AFINAL, ASSIM É A VIDA...)

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

A HISTÓRIA DE DOMINGOS (PARTE III)

Quando o assunto eram as relações amorosas, como no resto das relações humanas, Domingos seguia pelas mesmas dificuldades. Havia tido poucas namoradas, mas foram relacionamentos traumáticos para o rapaz, houve a construção de uma grande dependência. Talvez descrever o maior de todos os exemplos seja uma forma de ilustrar melhor a situação.

Era ainda o mês de março de 2006. Domingos, apesar de todos os sofrimentos que havia passado no turbulento ano de 2005, encontrava-se bem, estudando muito, retomando algumas amizades de forma moderada, com bons projetos e idéias na cabeça. Se recuperara de um trauma recente, no qual uma menina louca o usou para enciumar um antigo amante, deixando-o apaixonado e a beira da loucura. Mas o pior ainda estava por vir. Nesse mês, foi apresentado a uma menina de 20 anos. Seu nome era Maria. O encarregado da apresentação foi um amigo do colegial, há muito afastado dado as divergências de mentalidade que ocorrem depois de certa altura da vida. Quando a viu pela primeira vez, esperando-lhe junto a seu amigo e a namorada dele, pensou: ¨Isso não vai dar certo.¨ A menina era linda. Tinha uma altura mediana, uma cor de pele branca, cabelos longos e escuros, mas não totalmente negros, os olhos pretos num olhar profundo. Era esbelta e tinha uma certa altivez na postura. Tinha uns seios médios, pernas longas e um pouco curvadas - o que possuia um certo charme - e um belo traseiro, sem a vulgaridade das cantoras de axé mas que poderia fazer miséria na cama, e um rebolado disciplinado e feiticeiro. Tamanha beleza desenganou o rapaz, que não se tinha (como ainda hoje não se tem) na mais alta conta. No primeiro encontro se demonstrou arrogante, presunçoso, bancando uma postura intelectualóide de forma a se postar em posição superior a menina. Mas Maria não era uma menina tola com as quais os seus amigos de colegial até hoje saem, tinha uma sabedoria de mulher, e soube lidar muito bem com a situação, utilizando-se de uma fina ironia e salutar habilidade de maneira a desconcertá-lo e assim colocá-lo numa postura mais afável. Entre tapas e beijos, o primeiro encontro foi frutífero, e frutificou uma necessidade de reencontro. Trocaram e-mails provocativos e ácidos, mantendo assim um certo contato. Ficaram alguns dias sem se ver até que Maria chamou-lhe para sair. Passaram a noite juntos, assistindo a filmes e conversando. Não se beijaram nessa noite. Aliás, Domingos era incapaz de tomar qualquer iniciativa em relação a uma mulher. Além de ter um baixo auto-estima do tamanho do universo e ser dotado de uma grande timidez, não suportava ser rejeitado. A rejeição significava para ele um atentando ao seu próprio ser, visto que a opinião alheia conformava em grande porcentagem a sua personalidade - ainda mais a opinião de uma mulher. Não obstante, continuaram a sair como amigos, durante algumas semanas. As conversas eram interessantes, mas Domingos mantia-se na defensiva. Conversavam sobre tudo, e viam que tinham muito em comum. Porém, a menina gostava muito de conversar sobre sexo, visto que gostava muito do ¨negócio¨e de todo o jogo que o envolvia. Contava de suas experiências, na maioria desagradáveis, e demonstrava sua insatisfação com os parceiros que até aquele instante participaram de sua vida. Acuado, o jovem não queria deixar a desejar naquela troca de experiências, queria ter algo a falar, e das poucas e efêmeras relações que teve, se viu obrigado a aumentar o seu conteúdo e inventar situações que nunca aconteceram. Obviamente que a imaturidade do ¨garoto¨ transparecia, por mais criativo que fosse. Se via constrangido, e o pior, estava se apaixonando pela menina. Sem se desmentir, em certo momento se declarou a Maria. Se demonstrou incisivo, postando que só queria o seu amor, que não continuaria amigo dela se ela não o aceitasse como namorado. Foi recusado, mas voltou atrás, afinal, quem ama não se quer ver longe da amada. Continuaram os encontros, até que em certo momento, Domingos, cansado de mentir a Maria, se viu obrigado a confessar que era virgem. Tinha como certo que a menina o recusaria, achava que ela fosse achar repugnante o fato de um rapaz de 21 anos ainda preservar a virgindade. Mas a reação de Maria foi inversa, e comovida com a demonstração de honestidade do rapaz, beijou-lhe, numa bela noite fria de abril.

Todavia, o namoro não começou de imediato. Maria não havia gostado de ¨ficar¨ com Domingos, achou-o invasivo demais, ansioso demais. Deixou-lhe de molho alguns dias, até que resolveu tentar novamente. Se encontraram e juntos foram para a Lagoa. Só que Domingos sabia que tinha ido como muita sede ao pote e desta vez foi com mais calma. Dessa vez, a menina foi a loucura com os beijos e as carícias do rapaz. Uma mistura de delicadeza com paixão. Dessa vez, foi Maria que se descontrolou, e ali mesmo, à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas, quase que a virgindade de Domingos é levada embora. Depois desse dia, muitos foram os encontros assim. Os dois pegavam fogo. Se enlaçavam nos braços um do outro, perdiam-se naquele fogaréu de excitação. Como era de se esperar, Maria era mais atrevida, passava a mão nas partes íntimas do rapaz, acariciava-o de tal forma que deixava-o sem graça, dado o caráter inédito de tais investidas sobre o seu corpo. Até o final do relacionamento, o jovem ficou acuado diante do fogo da lânguida rapariga, gemendo de prazer enquanto as bocas e os corpos não se descolavam. Domingos ria, de nervoso e de surpresa, diante de tamanho desejo. E os encontros fluiam. Embora não se declarassem oficialmente, pelo menos da parte do rapaz, sentia-se namorado, um compromisso. Só que passavam-se os dias, os encontros, e a coisa ficava sempre no quase. Mão aqui, língua acolá, mas a situação pública dessas demonstrações de amor nunca possibilitavam o próximo passo. A ânsia era grande. Maria sabia de sua ¨condição virgem¨, o que lhe tirara completamente o medo. Tinha a ilusão de ser o homem que pudesse dar ao seu amor a satisfação que desejava. Sobre a situação de ansiedade, Domingos fez até uma tosca poesia:

No corpo, o desejo transborda
Meus lábios aproximo lentamente dos seus
Desviam, passeiam pela pele
A excitação me toma, mas não controla,
Ainda matura
Suaves, as bocas se tocam, afastam
Avanço e você recua
Avanças e eu recuo
Nos avançamos

As línguas incontroláveis se enrolam,
Se encontram e desencontram,
Sentem um sabor gostoso
É cigarro, hortelã?
Não, é paixão, tesão!
É desespero, quero devorá-la
E ela a mim, agônica
O caos excita, apavora, enlouquece
As cabeças insanas perdem o controle
Interagem, brigam, se amam
Se têm, possuem, consomem

As mãos, antes calmas e conscientes,
Também enlouquecem
Têm fome, pressa
Correm pelo rosto, descem ao pescoço
Voltam, perscrutam os contornos faciais
Revela-se ali um espaço íntimo
o gemido desnuda um prazer escondido

Sobem aos cabelos, e neles se perdem
Puxam docemente, depois empurram, boca a boca
Visitam as orelhas, pela nuca penetram o dorso
Dão a volta e chegam ao peito, descem aos seios
Aperta, com uma só, um a um
Sinto o pulsar de seu coração
Entram pela roupa, ultrapassam o sutiã
Alisam os mamilos, rijos, tesos

Juntas de novo, pelas costelas vão a cintura
Envolvem-na e puxam seus quadris aos meus
Os sexos se encontram mas se ressentem
O contato é indireto, insuficiente
O meu ereto, o seu úmido
Tristes descobrem
Não é hora, nem lugar
Por agora, só as mãos e os lábios consolam

A inspiração era tão grande quanto o amor e o desejo. Parecia que a hora não iria chegar. Até que chegou. Sua irmã Glacyra resolvera viajar com o marido. Domingos então fez o convite. A ocasião chegara. A princípio, Maria ficou relutante. O apartamento de Glacyra ficava acima dos pais de Domingos. Achava que a situação ficaria meio constrangedora. Porém, Domingos garantia que não haveria interferências, e que ela não precisava fazer nada se não fosse essa a vontade. Compraram algo para comer, alugaram dois filmes(Moça com Brinco de Pérolas e Balzac e a Costureirinha Chinesa). Em mais de uma ocasião, alugaram filmes para assistirem juntos. Sempre foi dinheiro gasto a toa. Naquela noite, botaram o filme no aparelho de DVD e deitaram no sofá. O filme foi assitido por quinze minutos. Deitados juntos, a mão dele passeando pelo corpo dela, seus lábios roçando o pescoço, enfim, talvez não seja necessário uma descrição mais pormenorizada. Não obstante, certamente o momento de ansiedade e a inexperiência do rapaz, apesar de Maria agir de forma didática em cada instante, foram motivos para a frustração. A perda da virgindade de Domingos foi realizada algumas semanas depois, mas o fogo dos dois não vingava no momento propriamente dito da consumação do fato. Dormiram juntos várias vezes, copularam inúmeras, sentiam um forte desejo um pelo outro, mas isso não era concluído em prazer, em amor. Ela passou a cobrar imensamente dele, pois queria porque queria que ele a satisfizesse. Domingos se sentia pressionado para conseguir o exigido a ele, se esforçava, bolava mil planos, mas não conseguia. Começaram a brigar, cada vez mais e mais. Ela, percebendo que o rapaz estava em sua mão, começou a humilhá-lo, a jogar em sua cara a postura arrogante e as mentiras de quando se conheceram. Ele se controlava, tentava amenizar, se sentia cheio, mas ainda acreditava que aquilo pudesse dar certo. Quando tudo terminou, viu que apenas uma coisa o mantinha ligado a ela: o sexo. Como o cigarro, ele sabia que aquilo estava lhe fazendo mal, mas não se desligava exatamente pelo prazer imediato que proporcionava. Lutavam mais para manter o relacionamento do que se relacionavam. Maria a xingava, humilhava, ele fazia loucuras por ela, comprava flores, escrevia poesia, levava presentes, mandava inúmeros e-mails. Ela sempre exigia mais e mais, sempre deixando-o inseguro. Ficaram exclusivos um do outro, ela, sem amigos, fez com que ele abandonasse os seus amigos. A vida de um era o outro, um era propriedade do outro, e a possibilidade do roubo deixava-o louco. Maria contava dos seus ex, dos seus sonhos com outros homens, e achava que ele deveria ouvir com compreensão. Dava imensos escândalos quando ele somente citava o nome de outra mulher. Mas por mais que aquilo lhe destruísse, o rapaz persistia, com um sentimento de que aquela seria a única oportunidade de amar (ou de fazer sexo) que possuiria na vida. Imaginá-la com outro era como a morte.
Desde o começo, Maria virou a sua vida. Deixou de estudar, perdeu o foco em que se encontrava, brigou com a família (obviamente devido também a um rancor que ele próprio sentia deles, culpando-os pela inércia em que se encontrava), ficou uma pessoa estressada, neurótico em relação a sua menina, preocupado em mantê-la sempre apaixonada, como se, por ventura, deixasse de demonstrar o seu amor por um minuto sequer, ela o deixaria. Seguia exatamente o contrário do que tinha como modelo de relação amorosa. Por várias vezes pensou em deixá-la, por uma vez até fez isso, mas voltou, e deixou o desejo de largá-la ser controlado pelo desejo sexual que tinha. Obviamente que a questão não era tão simples. Para a forma real como lidava com os amigos, era de se supor que, para alguém que lhe desse tanta atenção e estivesse tão presente em sua vida, a coisa se tornava ainda mais complicada. E por mais que fosse maltratado, espezinhado, esculachado, ela era sua namorada, estava perto dele e ele não conseguia mais viver longe dela, qualquer que fosse a situação. O amor deu lugar a dependência. Nada ilustra mais a idéia de Freud do gozo no sofrimento. Não que Domingos gostasse de sofrer do jeito que sofria nas mãos de Maria, mas para o estudante, era melhor sofrer com ela do que viver sem ela. O sofrimento do vazio que a saída da menina de sua vida causaria, ou melhor, o vislumbre dessa saída, era mil vezes pior do que aquilo que vivia. O fim foi trágico para ele. (continua)

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

A HISTÓRIA DE DOMINGOS (PARTE II)

A vida de Domingos tinha dois hemisférios: o ideal e o real. Construía em sua cabeça uma forma de homem que gostaria de ser. Delineava esse modelo a partir de exemplos muito palatáveis e sensatos. Um exemplo é a forma como Domingos concebia as relações do homem com as pessoas e com o mundo. Ele não era burro, via em sua volta um mundo egocêntrico, pessoas intolerantes, e nisso tudo formas de relacionamento marcadas pela perversão e dependência compulsiva. Domingos então buscava um ideal, marcado pela compreensão e o respeito. Principalmente nas relações humanas. O tempo é feito de momentos, e cada momento é único, cada prazer, sensação ou sentimento, é impossível levá-los além do que o tempo circunscreve. Mas o mundo não funcionava assim. Amizades passam, amores passam, mas para a maioria das pessoas, tudo tinha que durar para sempre, não se aceitava perder. A própria morte era o maior exemplo. As pessoas sofrem demais com a morte, sendo que a natureza do homem é perecível, nós temos um tempo. Não significa comodismo, e sim aceitar o inexorável.

A fórmula aparentemente não era complicada. Aproveitar o que cada momento, o que cada relação humana pode dar de bom; mas no momento em que se esgotar, aceitar a perda, saber desfrutar da lembrança, aprender com a dor, viver a maravilha da nostalgia. Aceitar que tudo nessa vida tem seu tempo também implicava saber compartilhar, por exemplo, um amor. Não, Domingos não era adepto do sexo livre. A questão era a própria concepção de amor. Uma pessoa só fica com outra ao lado quando existe algum interesse recíproco, não no sentido negativo, mas positivo. Numa relação amorosa, deve existir prazer, porém não se pode ficar restrito a coisa inicial, esta deve se desenvolver, ser posta a prova. O ciúme é a dependência desse prazer inicial. Quando um casal se inclausura deste jeito, o amor perde a sua virtude, vira vício. O amor deve desenvolver-se a partir da aceitação de três propriedades distintas e interagentes: o que é das duas partes e o que é dos dois. A existência de uma vida individual permite o enriquecimento da vida partilhada, através do acúmulo de experiências. Quem ama desse jeito, sabe que o amor recebido é atualizado a cada minuto, permanece candente. Corre-se o risco, sim, do amor, assim como um software obsoleto, não encontrar mais atualização disponível e perder seu lugar para um software mais avançado, ou simplesmente a necessidade que aquele programa supria não mais existir (a metáfora é meramente ilustrativa, para Domingos as pessoas não ficavam obsoletas, talvez os sentimentos, que se desenvolvem a medida que vivemos). A vida é um risco, e não expor os sentimentos ao risco é mantê-los aprisionados, um auto-atentado a um direito humano essencial.

Assim como as relações humanas, as relações com o mundo e com as coisas deveriam ser algo que contribuísse para o desenvolvimento do homem, seus sentidos e seu intelecto. Domingos tinha uma preocupação essencial com o progresso espiritual, e este não poderia se dar com a submissão dos sentidos aos prazeres. A relação compulsiva impede a fruição de todo o resto que o mundo pode dar. Impede também o aprendizado dos sentidos, um conhecimento muito valorizado por Domingos. Mas o ritmo rápido que o mundo contemporâneo impunha desenvolvia relações rápidas, fluidas, superficiais e por vezes, doentia. Em sua percepção crítica, a exaltação exarcerbada da imagem e a necessidade urgente de consumo impediam o desenvolvimento de relações sensuais educadas, que aproveitasse todo o potencial que dado objeto pudesse dar aos sentidos. Tudo era rápido e intenso, voltado a dependência e ao entorpecimento. Agora Domingos passou então a entender - muito ao seu modo, obviamente- o que Baudelaire entendia com o desaparecimento do objeto. O consumo construía o sujeito, passava a incorporá-lo. O homem é o que consome, constrói-se a partir disso.

Porém, apesar da construção de todo esse ideal, com um forte viés de percepção crítica em relação a realidade, Domingos não conseguia escapar das determinações mentais e culturais de sua época. Vivia imerso numa constante relação de mal-estar consigo mesmo, dada essa dissonância entre um ideal teórico e a prática. Era um sujeito compulsivo por excelência. Não existe meio termo para o jovem. Tudo é rápido e intenso, parece que cada momento é o último, que o tempo está prestes a se esgotar. Fumante compulsivo, comedor compulsivo, bebedor compulsivo. Não era um viciado mórbido em cigarros, nem obeso, muito menos alcoólatra, isto porque tinha consciência de sua compulsão, e buscava se controlar. Porém, esses controles sempre tiveram que ser rígidos, nunca foram relações saudáveis, não por falta de desejo, mas quase uma incapacidade crônica de educar os sentidos. Até em relação ao sexo isso acontecia. Se masturbava com uma frequência fascinante em dadas épocas. Quando descobria um prazer, queria que ele se prolongasse por muito tempo, e acabava não conseguindo parar, ficava às portas do vício. Por essa razão, apesar da grande curiosidade, Domingos nunca fumou maconha, apesar de um grande desejo o tentar constantemente. Entre o controle e a compulsão, sempre se sentiu mal, um fraco quando se entregava aos vícios, incompleto quando buscava o controle. Tinha nos estudos seu ideal maior. Eles lhe proporcionariam o maior prazer que poderia conquistar, aquele voltada ao descobrimento do mundo e de si mesmo, ao aperfeiçoamento, a um estado espiritual elevado. Um prazer que só seria conquistado a longo prazo, mas que lhe permitiria o que sempre almejou, se amar. Gostava muito de estudar, se sentia bem fazendo isso, era um rapaz inteligente, mas por não trazer um prazer imediato, os estudos não lhe causavam grande atração, e se via sempre seduzido a largá-lo por alguma recompensa imediata. Não era isso o que desejava fazer, mas era impelido por uma vontade fora do seu controle.

Essa rigidez intrínseca ao seu ser ultrapassava também para a própria esfera das relações pessoais. Não que Domingos não fosse uma pessoa sociável. Muito pelo contrário, era uma companhia extremamente agradável, tinha alguns bons amigos. Era seu mal-estar constante que o impedia de aproveitar ao máximo essas sociabilidades. Como em relação aos seus vícios concretos, o rapaz também acabava se tornando dependente das pessoas, desenvolvendo, por sua parte, elos afetivos não muito fortes, mas intensos e facilmente volúveis por sua parte. Era como o cigarro, a bebida, a comida, com a diferença que pessoas tem vontades, afazeres e outras relações em sua vida. Mas Domingos queria consumir as pessoas, tirar delas todo o prazer que lhe fosse permitido, e queria só para ele. Ficava enciumado quando perdia a atenção da pessoa com quem conversava, como se lhe tivessem tirado um bem. Ficava com raiva, e isso diminuia a consideração da pessoa em seu afeto. Tinha consciência disso e buscava evitar, o mundo não girava em torno do seu umbigo, ele pensava. Mas o sentimento era maior do que a razão, e sentia-se abandonado, carente, um vazio lhe tomava quando se via longe das pessoas de quem gostava. O rancor assumia colorações intensas em seu sentimento, e por vezes deixava de falar com aquela pessoa. Não obstante, mirando sempre em seu ideal (e Domingos, apesar de tudo, era uma pessoa muito esforçada), tentava lutar contra os pensamentos ruins. Mas era difícil. Viver em sociedade era uma tarefa árdua para Domingos.

Alguns dizem que era orgulho, outros vaidade, ainda tem os que dizem que a carência era a principal causa dessa dificuldade de Domingos em se relacionar com as pessoas. Talvez não seja nenhuma, talvez todas as causas sejam verdadeiras. A questão era complexa. É difícil dizer o que se passava pela cabeça do estudante. Suas atitudes e opiniões mudavam numa velocidade muito grande. A constância estava na instabilidade. Seus amigos eram em alguns dias muito queridos, noutros odiados, às vezes, desprezados, e ainda existiam dias em que Domingos se achava áquem dos seus amigos. Por isso, não raramente, buscava se afastar deles, tentando, na solidão, achar a tranquilidade para reavaliar a sua vida. Isso ocorria porque o rapaz avaliava a sua vida muito em função das conquistas e daquilo que os amigos tinham. Mas conquistas demandavam esforço, luta, tempo e sacríficio, e Domingos era incapaz de empreender um projeto desses, tudo para ele deveria ter retorno imediato, deveria proporcionar prazer imediato. A velocidade do mundo o sufocava, e ele não tinha o seu próprio tempo. Por mais que criticasse a maneira pela qual o comportamento geral se fundava, ¨deixar que a vida levasse¨, tal como dizia a música de Zeca Pagodinho, ele também acabava sendo levado por ela. Faltava-lhe tranquilidade, paciência. Não era uma coisa racional, era mais do que isso, era emocional. E Domingos sofria com a suposta inércia em que sua vida se encontrava. Mas faltava-lhe uma referência para estabelecer o que era estar em movimento. (continua)